Eles passaram pelas portas de vidro, a moça virou-se para eles e disse:
- Podem se despedir de seu filho aqui.
O garoto abraçou seu pai, sua mãe e seu irmão. As lágrimas não puderam ser evitadas e ele só queria poder ter tido a força de contê-las e não deixar a situação pior do que já estava. A moça ofereceu-se para levar a sua mala, e caminharam pelo longo corredor. Ele nem sequer ousou olhar para trás, seria muita tortura ver aquela parte da sua família que estava ali, parada e impossibilitada de mudar aquele cenário.
Entrou no quarto, a moça despediu-se e fechou a porta. Ele apagou a luz, sentou-se numa poltrona e chorou muito mais.
Aquele quarto escuro e vazio, as cortinas abertas deixavam que ele pudesse ver as estrelas, suas companheiras naquela noite insone. Suas lágrimas foram interrompidas por uma batida na porta:
- Com licença, está precisando de alguma coisa? Mais um cobertor ou travesseiro?
Neste instante, o rapaz percebeu que o ocupante daquele quarto chorava.
- Mas porque estas lágrimas? Vai dar tudo certo. Precisa de alguma coisa?
- Só queria comer.
Já passavam das 2AM. O rapaz saiu e ele repetiu em voz alta para si mesmo, em tom de zombaria:
- "Vai dar tudo certo"... se ele soubesse.
- Vou até a cozinha ver o que posso fazer.
Minutos depois ele regressa com uma bandeja com biscoitos, chá e umas torradas.
- Se precisar, é só chamar.
Ele sorriu em resposta. E voltou-se para o pequeno lanche. Cada mordida vinha acompanhada de soluços e mais lágrimas. Uma competição, mastigava e soluçava, mastigava e soluçava. Deitou, mas não queria dormir. Levantou-se e foi até a janela, abriu e sentiu aquele vento gelado da madrugada balançar seu cabelo e refrescar o seu rosto, ele fechou os olhos e viu seus familiares na recepção, parados, sem ter o que dizer, sem ter algum outro gesto a não ser o de ficarem lá, talvez petrificados e observando enquanto ele se afastava. Pensou também que não deveria ter recusado em falar com suas irmãs ao telefone mais cedo, ouvir suas vozes seria o melhor acalanto naquele momento. Deveria ligar? Hesitou, não queria acordá-las e não conseguir dizer nada a não ser chorar do outro lado da linha, e talvez deixá-as preocupadas.
Ali, os três: pai, mãe e irmão provavelmente também choraram enquanto viam o rapaz sair pelo corredor e virar à direita e desaparecer. Talvez, enquanto os três se voltaram e passaram pela porta de vidro em direção ao carro, também chorassem ou talvez tentassem não mostrar a tristeza que os assolava para que pudessem, juntos, ficar fortes.
Ele abriu os olhos, virou-se e encarou aquele quarto vazio, luzes apagadas que só deixavam aparecer uma única cor, o cinza. Em algum momento ele voltou para a cama e adormeceu.
E as luzes, continuavam a passar e passar. Na realidade, era ele quem passava por elas.