Muitos já sabem que quando se trata de música nacional, o meu gosto se limita. Também já sabem que eu prefiro muito mais escutar vozes femininas do que masculinas. Dentre as vozes femininas que me chamam atenção, Gal Costa sai em disparada.
Primeiro que ela me fez beijar a lona, pois eu considerava apenas boas cantoras aquelas que escreviam e produziam o seu próprio som, Gal faz algo melhor ainda. Como intérprete, faz com que a poesia de outro torne-se sua, como se aquela canção tivesse saído de suas entranhas.
Meu primeiro contato com Gal - o mais honesto, ou seja, quando eu escutei porque quis - ocorreu quando eu tinha por volta dos 14/15 anos. Uma tia emprestou uns LPs e no meio deles estava o "Profana", além da capa gritar em meus olhos, um selo modesto de censura deixou aquele gostinho de "quero saber o que foi censurado".
Eu já conhecia Madonna, então, eu tinha paixão por algo polêmico. De cara, viciei em "Vaca Profana" (a faixa censurada). Além da letra, que na época eu não entendi nada, a melodia, a voz e os "ê ê ê ê", no que se pode chamar de refrão, fizeram a música grudar em mim. O disco foi lançado 1984, décadas depois eu tive acesso e hoje ouço como se fosse lançamento. Aquele som bem típico dos anos 80, algumas faixas com uma pegada meio forró meio frevo, outras de se apaixonar - estilo trilha sonora de novela. E Gal com sua voz potente e aguda.
Muitos anos se passaram e sem querer cliquei em uma notícia que anunciava os melhores e piores shows do cenário nacional. Vamos ver o que está rolando. Não me recordo em que site foi, mas o autor da matéria anunciou como ponto alto o show da Gal, o "Recanto ao vivo". Até aí, tudo bem. Logo veio o golpe "... para divulgar o disco homônimo [Recanto, 2011], que é uma experimentação com batidas eletrônicas....", pausei o vídeo e corri procurar pelo disco.
Achei e amei. A faixa inicial, "Recanto escuro" é fria, crua e linda. Favorita. O disco entrou para o meu hall de queridinhos. Ouço muito e temos uma Gal sempre atrevida com a sonoridade das canções, sem medo de arriscar. Sua voz, já diferente pelo tempo, não perdeu seu encanto e nem sua potência. O show? Decorei de trás para frente. Se escutar bem, "Recanto Escuro" é bem biográfica.
Alguns anos se passaram e descubro que ela lançou o "Estratosférica" (2015), demorei para querer ouvir, pois o "Recanto" já havia me satisfeito imensamente. Fui ler à respeito do disco e a crítica elogiou uma faixa escrita por Tom Zé - "Por baixo" (toda safada, do jeito que Tom Zé sabe fazer).
Fui ouvir e... não parei mais. Faixa a faixa, o disco foi me seduzindo. Alguns arranjos parecem simples e medíocres, mas algo neles seduz e, junto com a interpretação de Gal, vicia. A audácia aqui fica por conta dos compositores serem todos novatos, se comparados aos monstros da música com quem Gal já trabalhou (a saber, "Recanto" é todo de Caetano Veloso).
As capas dos três discos valeriam uma postagem isolada, gosto de todas. E quando vi a capa do disco mais recente, imediatamente me remeteu à do "Profana", o cabelão principalmente.
Gal Costa me conquistou com estes três trabalhos, por conta disso, sinto enorme vontade de ir a algum show dela. Abaixo, listo outras canções favoritas de cada disco (algumas delas), se você ainda não ouviu, dê um clique e se delicie também (ou não). Eu continuo aqui, ouvindo sem parar.
Profana
Recanto
Autotune Autoerótico (adoro a rouquidão do ao vivo)
Estratosférica
images: pt.wikipedia.org / advivo.com.br
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