E lá estava ela, sentada em uma poltrona, miúda como um rato. Ele jamais imaginou que pudesse vê-la neste estado.
- Bença, Vó. Tudo bem?
Ela observou o neto por um momento e ele pôde notar em seus olhos que a sua vó não fazia ideia de quem estava parado na frente dela. A cabeça e a boca fazendo movimentos involuntários e constantes. Ela já não faz mais nada sozinha: banho, comida, trocas de roupa... tudo precisa de ajuda.
Parece que foi ontem que sua vó chegava em sua casa sem avisar, passava horas falando de todas as igrejas que havia visitado, fazia sempre as mesmas perguntas e quase sempre nunca entendia as respostas. Por vezes, malcriada, mandava você lá para aquele lugar e quando estava bem animada, jogava dinheiro para o alto e quem pegasse era o dono. Alegria dos netos!
E agora ela definha lentamente... ele ficou parado observando-a por um breve momento, não aguentou e seu rosto se encheu de lágrimas, por isso precisou ficar um tempo do lado de fora, chorando em silêncio num canto onde ninguém o notasse.
Ele não queria fazer esta visita, não queria perder a imagem de sua avó quando ativa. Agora cravou-se em sua memória a imagem dela tentando dar um aceno de adeus, deitada naquela cama, sem saber sequer para quem estava acenando. Contudo, foi um adeus sincero, um adeus honesto. Ele não sabe quando volta, mas o peso da impotência machuca muito fundo, uma vez que nada pode ser feito a não ser continuar como está, a doença é irreversível e já está em seu estágio avançado.
Pode parecer egoísta, pode parecer desumano, mas ele pede a algum deus que possa ouvi-lo, que encerre este sofrimento.
E ainda vem a sua mente aquele aceno... ele entrou no carro e só fez chorar até boa parte do caminho de volta. Seu coração triste e pesado.
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