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terça-feira, 12 de março de 2019

Preciso falar sobre o Vulnicura (ou os meses antecedentes)

Já faz um tempo (2015) que Björk lançou o seu trabalho mais profundo, denso e reconfortantemente triste: Vulnicura ou "A Cura para a Ferida". É preciso estar com o coração bem preparado, pois as composições te dilaceram e te curam ao mesmo tempo. Praticamente uma catarse (é preciso também ter tempo, as músicas podem durar até 10 minutos, mas a experiência é tão incrível, você fica tão imerso que o tempo voa). 

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https://www.huckmag.com/art-and-culture/music-2/bjork-vulnicura/

Björk é uma artista que eu considero conceitual. A interpretação do seus trabalhos começa com a capa do disco, e no caso do Vulnicura, a cantora islandesa queria que houvesse uma grande ferida na região do coração. 

Não é preciso saber sobre a vida dela para perceber que houve algum problema de relacionamento (nem sempre problemas deste tipo são por término de namoro ou casamento, podem ser amigos que se vão, brigas em família, pessoa querida que partiu para o outro plano, etc.)

E o que havia acontecido de fato? Björk tinha um relacionamento por mais de uma década com o artista Matthew Barney, tendo Isadora como fruto dele. O término desta relação inspirou o álbum Vulnicura. De acordo com a cantora, "as canções são sobre o que pode surgir em uma pessoa após o término de um relacionamento. Fala sobre os diálogos que temos em nossas cabeças e em nossos corações, o processo de cura." 

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https://grapevine.is/news/2015/01/21/bjorks-vulnicura-first-listen/

Cada canção tem como subtítulo uma contagem de tempo do antes, durante e o depois deste trauma. Começamos por Stonemilker (09 meses antes). É visível perceber que a cantora se dá conta de que algo está acontecendo, "Momentos de clareza são tão raros, é melhor eu documentá-los. Mostre-me respeito emocional, eu tenho necessidades emocionais, eu gostaria de sincronizar os nossos sentimentos". O título da canção vem da frase "pareço estar tirando leite de pedra para te fazer expressar teus sentimentos", então seria "ordenhadora de pedra". 


Lionsong (05 meses antes). Aquele momento em que você começa a se questionar e a pensar no "talvez". Björk começa meio chorando, meio desesperada, meio falando ao vento mesmo sobre que talvez ele saia dessa ou talvez não "de algum modo eu não estou tão preocupada". Se ela desconfiava de algo na faixa anterior, aqui ela tem certeza quando afirma que "talvez este leão (rei) selvagem não caiba mais neste trono". 


Somente com estas duas primeiras faixas do disco eu já fico no chão. Não tive nada parecido com o que ela teve, mas é como se eu tivesse, não consigo explicar. Quando ouvi History of touches (03 meses antes) mesmo antes dela começar a cantar, eu já imaginei uma cena em meio à madrugada, então Björk começa: "eu te acordei no meio da noite para expressar meu amor por você [...] te acordei no meio da noite, sentindo que seria a nossa última juntos". Esta é a faixa mais curta, apenas 3 minutos que te preparam para o golpe final da próxima.


Nos primeiros acordes de Black lake (02 meses antes) você já sabe que vem porrada. Eu não sei como ela conseguiu expressar através do arranjo e da voz tamanha dor. "Nosso amor era meu ventre, mas nosso laço se desfez [...] meu coração é um enorme lago negro enfeitiçado, estou cega, afundando neste oceano". A letra te rasga de fora a fora, aqui o rompimento está mais do que claro, a cantora afirma que o parceiro não tinha nada a oferecer e que o coração dele é vazio e que ela se encontra afogada em mágoas e sem esperanças de recuperação. A canção possui frases muito fortes como, "minha devoção por você fez eu me partir ao meio, então eu me rebelei e destruí o ícone, você traiu o próprio coração." 


A música então acaba, aperto pause e penso no que eu acabei de ouvir. Sempre que resolvo escutar este disco de cabo à rabo, deixo esta faixa para o final ou paro após ouvi-la, tamanho o estado de catarse em que me encontro. Sinto-me emergindo deste lago negro citado na canção. Na verdade, a música (o lago negro) é o que divide o álbum em antes e depois. Existe uma simbologia com a água aí,  minha gente. 

O disco foi muito elogiado pela crítica, obviamente. E eu não consigo imaginar como ela conseguiu cantar estas músicas ao vivo, já que ela havia saído em turnê. O momento parece de purgatório, Björk está expiando suas dores e mágoas, seus problemas. Ela narra em meio a metáforas e outras comparações todo o sofrimento por que passou naqueles últimos meses, enxergando que o fim se aproximava.

Como falei, não tive nada parecido com o que ela teve. Na época do lançamento eu me encontrava muito de bem com a vida. Por que o disco mexeu tanto comigo? Ainda não sei, talvez eu tenha terminado um relacionamento comigo mesmo e começado novamente. Descobri que eu não tinha nada a oferecer a mim mesmo e me mandei embora, e depois passei pelo processo de cura. 

Daqui em diante, teremos Björk falando sobre os meses que sucederam este rompimento. Será que ela conseguiu se curar?

Aguardem...

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