Comecei a escrever estas palavras tresnoitadas e cheias de
ansiedades às 6:10 da manhã do dia 13 de Janeiro, uma sexta-feira. O sol já
começa a despontar no horizonte róseo do amanhecer. Com o advento da aurora,
mais e mais sons de pássaros podem ser ouvidos, seus pios, grasnados e cantos
formando um coral sacro que entoa hinos de adoração ao novo dia que se inicia
devagar. Dentro deste quarto, porém, a força que impera é a do
descontentamento, este, ocasionado novamente pela eterna fonte de dúvidas e problemas
que aflige o coração deste que escreve: o amor.
Dessa vez, não houve mágoa ou traição, muito menos
desentendimento ou separação. Existe somente a angústia do incerto, a maldição
do não-dito, a dor que se sente com frequência, em pequenas doses, mas que
consegue ser mais vil e debilitante do que os males vindos de grandes impactos.
O que fazer em momentos assim, quando o objeto de tua paixão
se encontra tão fraco e vulnerável quanto tu pensas ser, mas, ao contrário de
ti, reluta em descobrir uma nova possibilidade, em se abrir e deixar com que
esse novo sentimento seja criado, que essa nova centelha de esperança surja,
combata as sombras e ajude-o a se curar?
E, por esse bloqueio, a quem atribuir a culpa? Ao que veio
antes, por tê-lo ferido? Ao próprio rapaz, por ter entregado tanto de si que se
submeteu à tortura? Ou a ti próprio, por ter se apaixonado perdidamente por
alguém tão triste, maltratado e assustado quanto também és?
6:41. Os primeiros carros começam a se insinuar, correndo
pelas ruas com seus potentes motores. Os pássaros continuam a cantar sua parte
na grande Musica Universalis. O sono ainda não poderia estar mais longe desta
cama, enquanto através da tinta de uma caneta, o notório coração noturno e
insone continua a tentar encontrar descanso e sonhos derramando-se em uma folha
de papel. Seu único alento é sua Arte. Arte esta que continua a ser tanto
escudo quanto punhal, tanto abrigo quanto tempestade, tanto disfarce quanto
espelho revelador.
7:02. A luz domina o exterior da casa. Finalmente os olhos
vermelhos e lacrimejantes, cansados de tanto verter lágrimas começam a ceder. O
corpo se alonga sobre o leito e, por debaixo do travesseiro macio, o plano dos
sonhos inicia seus trabalhos. Que eles sejam bons. Algo por aqui precisa ser.
(Thèrese Nouvion)